terça-feira, maio 17, 2011

Louis Burlamaqui


Chantagem emocional familiar
  


 
A necessidade de ser aceito é uma característica comum no modelo social de mundo que vivemos. A forma familiar estabelecida no mundo de hoje, colocam as pessoas juntas por laços sanguíneos, mas isso não significa que as relações sejam fáceis. Os laços são sanguíneos, não são necessariamente de uma ordem maior.  
As regras subliminares dizem que devemos estar unidos, em família. Isso é maravilhoso quando os valores, princípios e a base é a mesma. Só que, mesmo recebendo uma criação única, nem sempre os familiares adotam o mesmo padrão de comportamento de vida.
Quando uma pessoa percebe que existe alguma obrigação ou sentimento que envolva outro familiar e ela precisa deste familiar, o recurso da chantagem emocional, feita de forma inconsciente, é um comportamento naturalmente útil para se conseguir coisas.
O sofrimento inicia, e assim como o drama familiar também, quando existe a obrigação de agradar para evitar conflitos ou ceder para ser aceito.
O agradar o outro familiar, quando não é espontâneo e natural, transforma a pessoa em um passivo instrumento de modelagem social. No fundo, ela está mentindo para ela mesma. Isso é um mecanismo eficiente para a dor pessoal de não conseguir dizer “não” para aquilo que não concorda.
A briga, o desrespeito são injustificáveis em família, mas os conflitos inevitáveis. Que pais desejariam ver seus filhos ou sua família em conflito? Porém, os dramas sutis e subliminares tem um efeito psíquico devastador na natureza humana quando não colocamos nossas posições ou opiniões, de forma apropriada, para fora.
Um conhecido meu disse que estava muito triste e revoltado, pois há anos sua irmã fazia chantagem emocional com os Pais para obter dinheiro em suas dificuldades. Ela não reconhecia que fazia isso e nem os conflitos que por ventura trazia à família em festas, comemorações pelo seu padrão de comportamento explosivo e até infantil. Ele me disse: “Louis, eu já emprestei à ela nos últimos 15 anos mais de 20.000 reais e quando ela pede dinheiro para mim, ela coloca as coisas como se fosse a primeira vez que está pedindo dinheiro. Eu resolvi negar. Sabe o que aconteceu? Ela acabou comigo, dizendo que eu era um capitalista, que só vivia para o dinheiro, egoísta, etc. Bom, refleti e resolvi dar o dinheiro. Em seguida, ela agradeceu e disse que eu era o melhor irmão do mundo e sentia muito por tudo que tinha dito. Passado um ano, ela escreveu de novo, com duzentas evidências, mostrando que novamente estava em dificuldade financeira, precisava muito da minha ajuda e que aquele momento era único (como se ela não tivesse memória). Refleti novamente e vi que aquilo se repetia a vida inteira e ela fazia as mesmas coisas com meus Pais. Na cabeça dela, era nossa obrigação como família dar o dinheiro, mas se fossemos opinar ou dar um conselho, ela tinha dois padrões básicos de reação: não ouvia ou agredia com palavras. Como meu Pai dizia: abre o bolso e fecha a boca. Resolvi dar um basta e disse que não poderia ajudar financeiramente, mas ajudaria de outra forma. Ela me enviou uns 4 e-mails agredindo, atacando e com espírito de vingança. Chegou a dizer, que nem irmão mais ela teria a partir dali. Fiquei muito triste, mas decidi que não entraria mais nas chantagens emocionais dela. Decidi não responder e deixar que ela se descubra pelo que ela cria para si mesma.”
Meus amigos, quando familiares nos fazem chantagem emocional, nos fazem sentir mal, culpados de alguma coisa, lembrem-se: isso é deles! Mas vocês vão me dizer: é minha família! Sim é sua família, mas não significa que tenha que agradar ou aceitar coisas que te ferem e não vão de encontro com a melhor forma para resolver as coisas. Antes de respeitar a vontade do outro, lembre-se: respeite-se. Você não precisa agradar todo mundo. Você não precisa ser aceito por todos. Você não precisa ser o familiar perfeito. Você não é responsável pelos atos e responsabilidade dos outros.
Chantagem emocional familiar é muito comum. Se você cai nela, se tornará refém e vai criar um histórico na cabeça do outro de que se você já fez isso antes, por não fazer agora de novo?
Quando quem chantageia, te criar algum rótulo ou te imputar algum defeito, lembre-se que provavelmente esses “defeitos” são, na verdade, dele mesmo, e como ele não consegue reconhecer, ele precisa projetar em alguém.
Tendo isso entendido, mais fácil fica você não “comprar” as afirmações chantageantes feitas pelo outro.
Pare de querer ser o agradável, o bom, o legal. Siga seus valores e princípios.     
Dizer não para familiares, nas horas certas, é dizer sim para o que você sente e acredita.
Quem sabe, de repente você pode estar educando?
Louis Burlamaqui